sexta-feira, 2 de julho de 2010

1998 – França: No estádio erguido por seu pai, Zidane dá o título a França

Dirley Santos, do Rio de Janeiro (RJ)*

É ano de eleição no Brasil, que daria mais quatro anos para Fernando Henrique Cardoso. Enquanto a bola rolava na copa, entrava em campo em Brasília o time da maracutaia. Nos bastidores, um esquemão de compra de votos (o pai do mensalão) estava sendo montado, para garantir a aprovação da emenda da reeleição no Congresso Nacional. Nada de chuteiras. Para os tucanos (e depois petistas), o que valia eram as malas de dinheiro.

No velho continente, 11 países chegavam a um acordo para instituir o Euro, a moeda única da União Européia. Mas uma enorme crise das bolsas de valores, em efeito dominó, atinge o globo: Rússia, Indonésia, Brasil, Argentina, etc. Menos de um ano depois, o Real seria desvalorizado e a economia brasileira se desestabilizaria permitindo que os movimentos sociais impulsionassem uma forte campanha pelo “Fora FHC e o FMI”. No mundo, surgiria o movimento anti-globalização, com protestos radicalizados contra a globalização e as reuniões dos organismos financeiros internacionais, como a de Seattle, em 1999.

O mundo é apresentado à ovelha Dolly (não o guaraná), o primeiro animal clonado da história. E, após 24 de reinado, João Havelange passou a presidência da FIFA para Joseph Blatter, quase um clone seu. E, exatos 50 anos depois, a Copa do Mundo se realizaria novamente na França, agora marcada por um clima de tensão social, com greves como a da Air France.

Foi um torneio marcado por jogos tensos politicamente: Irã 2 x 1 nos EUA; Iugoslávia 1 x 0 nos EUA e Argentina 4 x 3 na Inglaterra, partida decidida nos pênaltis, mas que carregava os fantasmas da guerra das Malvinas.

Participaram 32 seleções, um recorde, sendo 15 da Europa: a própria França, Croácia, Holanda, Itália, Alemanha, Dinamarca, Inglaterra, Iugoslávia, Romênia, Noruega, Espanha, Bélgica, Áustria, Escócia, Bulgária; oito da América: Brasil, Argentina, Paraguai, Colômbia, Chile, EUA, Jamaica e México; cinco da África: Nigéria, África do Sul, Tunísia, Camarões e Marrocos; duas do Oriente Médio: Arábia Saudita e Irã e duas da Ásia: Coréia do Sul e Japão.

O Brasil, confirmando seu favoritismo, ia comandado por Rivaldo e Ronaldinho, passando sem maiores problemas por seus adversários: 2 x 1 na Escócia, 3 x 0 no Marrocos e uma derrota, sem maiores conseqüências, para a Noruega por 2 x 1, isto tudo na primeira fase. Depois, nas quartas-de-final, 4 x 1 no Chile; nas oitavas, 3 x 1 na Dinamarca e na semifinal, 1 x 1 com uma Holanda ofensiva, e uma emocionante vitória por 4 x 2 nos pênaltis.

Com exceção da partida com os holandeses, o caminho para o pentacampeonato vinha sendo fácil, já que a França, apesar de contar com a torcida, vinha sem apresentar um futebol digno de confiança. Reles engano, novamente envolto, em uma euforia desmedida e pressionado pela patrocinadora Nike, que obrigou a escalação do atacante Ronaldinho na final, apesar deste ter sofrido um ainda não explicado ataque de convulsões no alojamento na véspera.

Brilhou a estrela do descendente de argelinos Zinedine Zidane, que surpreendendo a defesa brasileira marcou, em menos de 10 minutos, dois gols escorando cobranças de escanteios, a ironia era que ele normalmente era o cobrador. O melhor momento de sua carreira foi justamente no estádio que o seu pai, anos antes, havia ajudado a construir, como um entre os milhares de imigrantes que fazem rodar a economia das potências imperialistas. A França, que condenaria anos mais tarde, a revolta dos subúrbios, viu o seu novo título chegar justamente pelos pés de um deles.

Perto do final da partida, Petit faria o terceiro e derradeiro gol, na maior diferença num placar em uma final desde a vitória do Brasil em 70 contra a Itália (4 x 1). Com o Brasil sem entender nada, até hoje circulam os boatos sobre o que teria acontecido naquela tarde na concentração. Qual é o seu preferido?


*Publicado originalmente no Jornal "Opinião Socialista" em 2006 e no sítio do PSTU (
http://www.pstu.org.br/) por ocasião da Copa do Mundo da Alemanha.

Mais informações sobre a Copa de 1998*:

- País-sede: França

- Data: 10 de junho a 12 de julho de 1998

- Participantes: França (campeã); Alemanha, Itália, Holanda, Romênia, Espanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Dinamarca, Inglaterra, Noruega, Escócia, Iugoslávia, Brasil (vice-campeão), Argentina, Jamaica, México, Estados Unidos, Chile, Colômbia, Paraguai, Camarões, Marrocos, Nigéria, África do Sul, Tunísia, Irã, Japão, Coréia do Sul e Arábia Saudita.

- Final: França 3 x 0 Brasil Itália (12 de julho, Stade de France, Paris)

- Curiosidades da Copa*:
- A XVI Copa do Mundo FIFA de 1998 ocorreu pela segunda vez na França (a primeira foi em 1938) e contou pela primeira vez com 32 seleções participantes. Apenas o campeão e o vice de cada grupo se classificavam para a segunda fase, em oposição a torneios predecessores onde alguns terceiros colocados também garantiam vaga na fase final. Quatro nações faziam sua estréia em Copas do Mundo: África do Sul, Japão, Croácia e Jamaica;


- Na fase de classificação, pelo Grupo A, o Brasil se classifou em primeiro, mesmo perdendo no terceiro jogo para a Noruega, que ficou em segundo lugar no grupo. No equilibrado Grupo B, a Itália, vice-campeã da última edição, confirmou o favoritismo e classificou-se na última rodada após um empate com o
Chile. No grupo C estava a França, dona da casa;

- O time de
Zidane, Barthez e Deschamps avançou em primeiro no grupo, enquanto a Dinamarca, liderada pelos irmãos Michael e Brian Laudrup ficou com a outra vaga. No Grupo D, a favorita Espanha, formada principalmente por jogadores do Real Madrid, amargou a desclassificação já na primeira fase. A Bulgária, na despedida de Hristo Stoichkov, também decepcionou os especialistas, ficando na última colocação. O destaque positivo ficou para Nigéria e Paraguai (retornando a uma Copa após 12 anos sem disputar o torneio), que classificaram-se de forma surpreendente para as oitavas-de-final. Já a Holanda e o México classificaram-se no disputado Grupo E;

- O Grupo F representava um tom político na Copa.
Irã e Estados Unidos, rivais no campo diplomático, fizeram uma disputa leal em campo, mas nenhuma das duas seleções garantiu a classificação. As vagas ficaram com Alemanha e Iugoslávia, que empataram e venceram os dois adversários. No Grupo G, holofotes para a Inglaterra e seus dois jovens jogadores, David Beckham e Michael Owen. Em campo, a classificação se deu no segundo lugar, atrás da Romênia;

- No Grupo H, a
Argentina, dirigida por Daniel Passarella, venceu suas três partidas e garantiu a classificação para as oitavas-de-final;

- Após derrotarem a Inglaterra na primeira fase do torneio, os jogadores da Romênia comemoraram a classificação para a segunda fase com todos os jogadores com os cabelos pintados de amarelo. Até o técnico
Anghel Iordanescu "entrou na onda". A única exceção foi o goleiro Bogdan Stelea, que, por ser careca, não igualou o gesto de seus companheiros de time;

- Nas oitavas-de-final, a Argentina classificou-se nos pênaltis após um empate no tempo normal com a Inglaterra, em um jogo que ficou marcado pela expulsão de Beckham, irritado pelas provocações de
Diego Simeone. O Brasil também passou de fase após uma goleada sobre o Chile, com dois gols de Ronaldo. Em uma partida empolgante, a Croácia bateu a Romênia pelo placar simples. E os donos da casa só bateram o Paraguai no segundo tempo da prorrogação, com um gol de ouro do zagueiro Laurent Blanc. A Dinamarca, com um futebol envolvente, eliminou a Nigéria com uma goleada. Nas outras partidas, Itália, Holanda e Alemanha avançaram após difíceis vitórias contra Noruega, Iugoslávia e México, respectivamente;

- Na fase seguinte, o Brasil reafirmou seu favoritismo após uma virada contra a Dinamarca. E a Itália amargou sua terceira eliminação consecutiva em pênaltis em uma Copa do Mundo, desta vez para a França. A Argentina foi derrotada num duelo de favoritos pela Holanda, graças a um belo gol de Bergkamp no fim do segundo tempo. Já a Croácia humilhou a Alemanha na maior goleada das quartas-de-final, tornando-se a grande sensação da edição. Em Marselha, Holanda e Brasil mediram forças. Após empate no tempo normal, Taffarel defende dois pênaltis e torna-se um dos principais responsáveis pela classificação brasileira à final. Já em Saint-Denis, os anfitriões eliminaram a grande zebra do campeonato;


- A final da Copa do Mundo FIFA de 1998 foi disputada pela França e Brasil. A partida foi realizada em 12 de julho às 21h, no Stade de France, com um público estimado em 80 000 pessoas. Sob o apito do árbitro marroquino Said Belqola, Zinédine Zidane marcou duas vezes no primeiro tempo e Emmanuel Petit ampliou aos 48 minutos do 2º tempo, terminando a partida em 3 x 0, eliminando, em goleada, a seleção brasileira, atual campeã do mundo e única tetracampeã da época. O capitão francês Didier Deschamps levantou a taça do primeiro e único título da França em copas do mundo;

- A final causa polêmica até hoje. (Leia O Brasil entregou a copa de 1998 ?). A Seleção Brasileira entrou em campo apática após a convulsão de Ronaldo, que mesmo assim foi escalado por Zagallo. A França bateu o Brasil por 3 a 0, com uma grande atuação de Zidane, que marcou dois gols na decisão. Os Bleus garantiram, então, seu primeiro título mundial, após tentativas frustradas das gerações de Fontaine, Kopa e Platini.


*Fonte: Wikepédia

- Leia o que já foi publicado aqui no blog sobre a história das copas:
1930 - Uruguai: A bola rola, com o mundo em frangalhos
1986 – México: Entre a magia de Diego e o fim da euforia democrática

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